Tratamento por morte de células do câncer deve levar anos, diz cientista da Folha Online

Uma doença que não tem localização exata no corpo ou idade para acontecer --e que constitui a segunda maior causa de mortalidade no Brasil, índice que posiciona o país junto às nações desenvolvidas. O câncer, cuja variedade ultrapassa a casa das centenas, foi o objeto de estudo em uma pesquisa do periódico científico "Nature", anunciada na quarta-feira (17).
Segundo os pesquisadores envolvidos, em vez de matar células cancerígenas com drogas tóxicas, existe um caminho molecular que as força a envelhecer e morrer. Para obter resultados efetivos a partir do estudo, entretanto, é preciso cautela. "Essa é uma fase muito preliminar. Existe um período a partir dessa identificação até o desenvolvimento de testes com animais e testes clínicos, para ver se [a pesquisa] é promissora e ter utilidade clínica", afirma Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora do setor de oncologia clínica do Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo.
"Partindo desse principio tumores diferentes, um tratamento pode ser bom pra um indivíduo e para outro não. É preciso, ainda, individualizar melhor o tratamento." A célula tumoral deriva de uma célula normal, a partir de uma desregulação do mecanismo de controle natural da divisão celular. Ou seja, uma célula cancerígena não possui mecanismo de controle, e passa a se autorregular.
"É como se você perdesse seu superego [uma espécie de "cão de guarda" que medeia o consciente e o inconsciente do indivíduo, de acordo com a psicanálise], perdesse seus limites, e agisse sem eles", compara Estevez Diz.
Esse descontrole celular destrói o tecido corporal e pode se espalhar em outras partes do corpo, em um processo conhecido como metástase.
A partir daí, a superdose de células envereda por outro processo, no qual uma massa de tecido começa a se formar: o tumor, que tem capacidade de formação de vasos sanguíneos. Ele é, então, alimentado por proteínas desses vasos sanguíneos, em um processo conhecido como angiogênese. Isso potencializa a capacidade de crescimento do câncer.
"O tumor, na maioria das vezes, é decorrente de processos aleatórios do organismo. O que acontece é um conjunto de --quase-- coincidências", observa a pesquisadora. "Não se trata de uma única doença, mas de um conjunto de doenças que envolvem a autorregulação, a capacidade de metástase e a capacidade de invasão pela corrente sanguínea."
Os fatores ambientais e comportamentais --como o tabagismo-- são os grandes pivôs da ocorrência de câncer, por meio da indução da mutação da célula. Apenas 10% dos casos correspondem à hereditariedade, ou seja, ao indivíduo que nasce com a modificação celular.

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